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Entendendo a Ejaculação Precoce pela ótica da Terapia Cognitiva Sexual
 
 
Entendo a Ejaculação Precoce pela da ótica da Terapia Cognitiva Sexual.

A Ejaculação Precoce é um dos assuntos, na esfera sexual, que mais preocupa os homens na atualidade, sendo por exemplo, o link mais acessado nas sites de sexualidade masculina (Chvaicer, 1999). Apesar disto existe no Brasil uma grande carência de métodos e profissionais confiáveis, para precisarmos com clareza o percentual de homens com esta queixa. Dados americanos informam que este problema afeta de 22 a 38% de homens em alguma fase na vida. (Lawrence, 1992).

É interessante notar que a Ejaculação Precoce é uma disfunção relativamente nova, (Silva, 1989) já que no passado ela era tratada como problema apenas quando implicava na dificuldade de fecundação. Um dos primeiros trabalhos científicos relevantes publicado sobre Ejaculação Precoce data de 1948 e é intitulado: Ejaculação Precoce: uma revisão de 1130 casos.(Shapiro,1943)

Mas o que vem a ser Ejaculação Precoce?

Acredito que o forte componente subjetivo, aliado a questões ideológicas, seja o que levou a várias definições no decorrer dos anos.

As definições mais antigas, referiam-se ao tempo decorrido entre a intromissão vaginal e a ejaculação. Períodos de 30 segundos a 5 minutos foram sugeridos, sem que se chegasse a um consenso.(Lawrence, 1992).

Masters e Johnson, (1970) foram os primeiros a darem ênfase a importância da satisfação da parceira, eles afirmavam que o homem padece de Ejaculação Precoce quando em 50% das relações ejaculam antes que a sua parceira atinja o orgasmo.

Este critério, foi muito discutido, pois era a insatisfação dela que indica a disfunção dele.

Há alguns anos, Kaplan (1974) propôs uma definição para EP, que tem sido adotada pela Associação Americana de Psiquiatria e pela Organização Mundial de Saúde, que diz que Ejaculação Precoce é uma ejaculação persistente ou recorrente, com estimulação sexual mínima que ocorre antes, durante ou logo após a penetração e antes que o indivíduo o deseje, (o grifo é meu).

Alguns autores adotam na sua prática clínica o conceito de ejaculação precoce como sendo a incapacidade de reter voluntariamente a ejaculação. (Bestane et col ,1998). Sendo assim, todo aquele que ejacula antes do que deseja, por não inibir voluntariamente a ejaculação, padeceria de ejaculação precoce.

Este conceito atual de Ejaculação Precoce deve ser apreciado com reservas, tendo em vista, que o homem de hoje encontra-se pressionado cada vez mais por um desempenho maior, em detrimento de seu prazer.

Um grande número de etiologias têm sido propostas para EP, todavia poucas tem sido adequadamente investigadas, e até agora nenhuma conseguiu explicar satisfatoriamente o fenômeno. Segundo Assalian (1994) a ejaculação Precoce é de origem fisiológica, e seu melhor tratamento se faz com medicamentos. Esse autor faz parte daqueles que tentam medicar a sexualidade humana, especialmente a sexualidade do homem, reforçando o mito de que o macho tem que servir para a fêmea (McCartehy,1994).

Somente se indica o cliente com ejaculação precoce para exames urológicos e neurológicos quando ele perdeu um controle ejaculatório que já tinha, todavia, isto é raro (Kaplan, 1974). A Ejaculação Precoce é uma queixa essencialmente psicoterápica.

Masters e Johnson (1970) demonstraram que um forte componente de aprendizagem estaria intimamente ligada a EP, estes homens se condicionariam a uma fácil e rápida ejaculação, estabelecendo este padrão de comportamento sexual por toda a vida.

Esta hipótese foi criticada, pois uma pequena porcentagem de homens que tiveram esse mesmo tipo de iniciação sexual não se tornaram ejaculadores precoces (Assalian, 1994).

A ansiedade, também é apontada com causadora da EP (Strassberg,1990), todavia, ela não pode, assim como o condicionamento ser a única hipótese para a queixa. Homens medicados com drogas para ansiedade, mesmo assim ejaculam precocemente.

Segundo a teoria Evolucionista a EP seria um mecanismo de defesa, já que o macho deveria ejacular rapidamente para fecundar a fêmea, evitando assim, maiores riscos na hora da procriação, onde teoricamente a espécie estaria mais vulnerável a ataques (Hong, 1984)

Levando em consideração que não mais fazemos sexo somente para procriação e sim para o prazer, esta hipótese nos faria pensar que ejacular rapidamente seria uma resposta inerente da espécie e que com a modificação do objetivo sexual, o homem deveria se adequar ao novo papel e assim, aprender a controlar sua ejaculação para tirar e dar mais prazer no ato sexual.

Isto explicaria porque em geral são os adolescentes que mais sofrem com esta queixa. (Chvaicer, 1999)

Acredito que fatores comportamentais, tais como falta de assertividade (passividade) na esfera sexual, seja um dos fatores mais marcantes na dificuldade de aprendizagem do controle ejaculatório. A grande maioria dos pacientes atendidos por mim com ejaculação precoce apresentam queixa de baixa assertividade sexual e nenhum controle da relação sexual em geral. Suas parceiras decidiam como e quando fazem sexo, bem como, se o homem deve ou não fazer tratamento. Também é observado dificuldade de assertividade em outras esferas do relacionamento.

Acredito que se um homem adota um comportamento sexual, onde ele não se preocupe em aprender a controlar e perceber as sensações que antecedem ao orgasmo, ele dificilmente não terá problemas de relacionamento com as (os) suas (seus) parceiras (os). Assim como também, se este homem adota uma postura de excessiva preocupação - ansiedade- com o seu controle ejaculatório, é possível, que por vezes, ele ejacule sem antes ter atingido a totalidade de sua excitação - ereção. Desta forma, tanto o condicionamento, quanto a ansiedade, devem ser observadas como fatores etiológicos para a dificuldade do homem em adquirir um controle ejaculatório.

Por: Antonio Carvalho.

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